quarta-feira, 8 de junho de 2011

CONCEITO MEDIEVAL E ANDRÁLI

DA NÃO APLICABILIDADE DO CONCEITO MEDIEVAL QUE DISPUSEMOS AO CENÁRIO DE ANDRALI

            Ao se tentar comparar o contexto de Andrali à História Medieval “real” (usarei esse termo para designar a História do mundo concreto em que vivemos), cometem-se dois erros. O primeiro, em partir dum conceito viciado quando não raso a respeito do medievo. E o segundo, a meu ver o de maior peso, é o fato de insistirmos em fazer analogias entre dois mundos que contam com sujeitos distintos, circunscritos em situações também distintas.
            No primeiro caso, devemos ficar atentos para não cair num medievalismo “francocêntrico”, ou seja, aquele que vaidosamente dimensiona para toda a Europa, um feudalismo que existira como modelo econômico, apenas no norte do que hoje se compreende como França – diga-se de passagem, que perdurou por duzentos anos. Grande parte da Europa era rural, verdade, mas isso não é sinônimo de feudalismo.
Na península ibérica, que fora ocupada por bárbaros e depois tomada pelos turcos que ali permaneceram por cerca de seiscentos anos (obviamente a custo de constantes conflitos com os reinos cristãos do norte), viviam católicos, judeus e muçulmanos. As relações sociais ali, se davam de maneira extremamente distinta de qualquer outra parte da Europa. Eram intensas as trocas culturais, científicas e econômicas. E é claro, quando falo de trocas, compreende-se antes um processo de hibridismo forçado pelas circunstâncias do que processos pacíficos. Destaque também para a costa leste da península onde o comércio no mar mediterrâneo era latente, uma vez que os muçulmanos dominavam aqueles mares.
Na região a que se designou o nome de Itália mais tarde, a organização política era disposta em cidades-estado. Ali perduravam as grandes famílias que outrora fizeram parte da próspera Roma Ocidental, e que por concentrarem força e dinheiro, além de contarem com o suporte da parte melhor estruturada da antiga Roma -- a capital e arredor, resistiram de maneira diferente aos ataques bárbaros. Dispunham de uma organização muito aquém do feudalismo. Com intensas atividades comerciais e progressivo desenvolvimento (não preciso lembrá-los que ali se iniciou o movimento renascentista).
E por último lembrá-los-ei do Império Bizantino. Aquele, cuja capital era Constantinopla, que outrora fora a parte oriental do dividido Império Romano. Bizâncio resistiu aos ataques bárbaros (inclusive aos Hunos) e perdurou firme, dono de uma cultura, e organização política que nem sequer sonhava com o feudalismo. Com exércitos e muralhas a proteger as fronteiras, o Império Bizantino se estendia na parte oriental, pela costa leste do mediterrâneo (em constantes conflitos com os árabes), e a parte que se compreende hoje por Turquia. Na parte ocidental os domínios abrangiam toda a Grécia, as atuais Bulgária, Macedônia, Albânia, Iugoslávia e parte da Romênia.  A administração interna, em boa parte das principais cidades do Império, era bem elaborada e burocratizada. A arquitetura em Constantinopla não sofrera com o choque das invasões, e o desenvolvimento das artes e das ciências desfrutava de ambientes favoráveis com relação às outras partes da Europa.
Iluminemo-nos então a respeito do conceito que carregamos sobre o período medieval, a dita idade das trevas. Nomenclatura criada pelos próprios renascentistas para dispor o imediato período que se deixava para traz, em contraste com a nova era que se iniciava – um ato de prepotência que hoje nos serve apenas para embaçar o entendimento.
            No entanto, tais esclarecimentos, são mero capricho da minha parte. Pois que lhes direi. De nada nos serve este modelo medieval (com todas as suas vicissitudes), quando tratamos de Andrali. Chegamos então à segunda questão. Primeiramente, não há igreja católica em nosso cenário. Pois bem. Livramo-nos então duma fortíssima corrente contrária que nos impediria de evoluir, seja na educação, ciência, arte, cultura em geral.  E veja que para cada um destes itens, temos mais de uma perspectiva: humana, élfica, anã, dracônica, dentre outras. Fato que por si só já enriquece as relações dispostas em nosso cenário. Nas grandes metrópoles, por exemplo, onde o contato entre as raças normalmente se dá de maneira mais acentuada, muito mais ricas e diversificadas serão as trocas culturais.
Não ignore também senhores, que o período medieval “real” só existiu, como produto de um embate entre um Império Romano decadente e as invasões bárbaras. Não me lembro de termos Império Romano em Andrali, tão pouco invadido por germanos, ostrogodos, visigodos, hunos, etc. Portanto, cai de vez por terra qualquer possibilidade de pautarmo-nos no medievalismo “real”, uma vez que em nosso cenário, não haveria precedentes para que o mesmo ocorresse – exceto se a vontade do mestre nos provar o contrário.  
E lembrando romanos e gregos, me faz pensar em toda conjuntura política, desenvolvimento arquitetônico, científico, filosófico e cultural de cada uma dessas civilizações. Por que então pensar que as grandes cidades de Andrali seriam menos? Não me parece qualquer absurdo então uma metrópole como Richada ter seu eficiente modelo de educação, disposto da maneira que melhor lhe convir. E se não estendido ao alcance de todo o povo, é por simples questão de escolha daqueles que governam – como assim o é em nosso mundo, e assim sempre fora.
Aliás, e por falar em Richada, que é uma cidade portuária, ao mar aberto, consideremos que durante a idade média “real”, o único mar que se conhecia era o mediterrâneo (que muito limitava as expansões marítimas). Vejam como enriqueceram e evoluíram as principais cidades da Europa depois que se passou a explorar os grandes oceanos. E as mudanças que tais empreendimentos marítimos trouxeram para todo o mundo. As relações comerciais logo se globalizaram. Da idade moderna rapidamente chegou-se a contemporânea. Em Andrali, onde já se navega por imensos oceanos conectando gigantescos continentes, quantos Portugais, Espanhas, Inglaterras, modernos, quiçá mais que modernos, não temos? Os comerciantes, se me permitem afirmar, já acenderam há muito, nas grandes cidades de Andrali. O que impede nestes locais, a coexistência de qualquer nobreza que queira mastigar mais do que possa cuspir (astuto é o grande Imperador Veylor em seu golpe de estado). Por outro lado, sendo Andrali de dimensões muito maiores que o planeta terra, não ignoro que haja regiões onde vivem sociedades de estruturas simples e outras dominadas por aristocracias regionais. Tudo dependerá das dimensões e contextos de cada localidade.
            Por fim, se tivesse que arriscar qualquer analogia com nossa História “real” – o que não aconselho – diria antes que Andrali, uma vez que só me parece perder pelo fato de não ter atingido a revolução industrial, está para um período moderno avançado. Mas talvez esteja mais além, por dispor de magias divinas e arcanas (imagine o avanço no que concerne à saúde pública se considerar a magia branca – ou a dimensão dos conflitos bélicos por meio da magia ofensiva). Mas isso renderia mais longas páginas de discussão. Por hora, fiquemos aqui.

Artigo de Rafael Márcio Kretzer

7 comentários:

danielrs disse...

Putz, tinha escrito um comentário enorme aqui e quando fui mandar o blogger deu pau :/

Não tem problema, dou minha opinião de maneira mais curta:

Em primeiro lugar, parabéns pelo artigo, muito claro e objetivo.

Acho legal a gente usar um período histórico pra basear a campanha, mas as comparações só vão até certo ponto.

Talvez seja bom para limitar alguns avanços científicos e tecnológicos.
Agora quando ao desenvolvimento social, acho que não é impossível um personagem ter uma ideia diferente, até porque não sabemos o que é uma "ideia diferente" em Andrali.

Achei muito legal a discussão que surgiu e acho que isso ajuda não só os jogadores a conhecerem novas ideias, mas também o mestre a moldar o mundo do jogo de uma forma que seja interessane para os jogadores.

Cristina De Melo ( Doula) disse...

Concordo com muitas das colocações, principalmente que existem muito mais modelos que o frances e que as vezes um estudo hisórico nos esclareceria bastante. Contudo Andráli tme diversas peculiaridades que a diferenciam.. e como todo cenario o que pode ameniza isso é um livro de cenario contando a historia geografia e politica, assim seria possivel compreender plenamente o funcionamento do sistema politico socio tecnologico de Tenebris por exemplo. E será sim feito assim que eu sair do curso e tiver tempo. - Donato Oliveira -

Unknown disse...
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Unknown disse...
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Unknown disse...

Primeiro: vários erros ortográficos grotescos ("dum", "acender", que coisa horrorosa para com a nossa língua materna).
Segundo: vários erros históricos. Turcos (não tártaro-mongois) nunca (n-u-n-c-a) ocuparam a península ibérica. Foram os árabes (entre eles os almorávidas, que advinham de uma corrente rigorosa do Islã).
Terceiro: Concordo que há uma mistura cultural, social e até de ordem econômica muito maior, e logo, de maior relevância para o cenário. Decerto haverá diferenças, e não serão poucas. Discordo de forma veemente no quesito educação (os argumentos já apresentei em sessão). Aliás, para aqueles que pensam que eu estaria à sugerir isonomia entre o período medieval e a campanha, estão equivocados.
Apenas gostaria que o sistema feudal e as circunstâncias históricas da Europa servissem como referência (r-e-f-e-r-ê-n-c-i-a). Agora, por favor, não se pode dizer de maneira alguma que, utilizando castelos e espadas, e só por isso, a campanha alude à um cenário medieval. Nobres colegas, chamem de qualquer outra coisa, menos medieval.

Ah! Diminuição no número de maguinhos, magias e espadinhas mágicas seria de grande valia.

Rafael Kretzer disse...

Sobri us Turcos, o Igor tein toda rasão. Quis escrever mouros, i no lugar coloquei turcos. Mas ele ouviu-me açim comu todos us outrus jogadores em ceção, falar sobre a ocupasssão da península ibérica pelos mouros (ou árabes, almorávidas, o diabo qui prefirir chamar).
Sobri as outras palavras – ou golpes –, “desferidas” pelu mesmo, não meresserãu qualquer comentário de minha parti. Ou por contradiserem u que o próprio autor discutiu in ceção, o por não paçarem de mero balbuciamento dum ego firido.

VIVA O ERRO ORTOGRÁFRICU!

Unknown disse...
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